Introdução
Se a casa tem cave sanitária e cheira a húmido, o problema não é só o nariz do cliente — é a madeira a absorver água, fungos a ganhar terreno e eficiência energética a desaparecer. O que fazer, porquê e como? Nesta guia prática, mostro o que funciona em obra para cortar humidade na cave sanitária: diagnóstico objetivo, drenagem, barreira de vapor, selagem ou ventilação, isolamento, e desumidificação. É conversa de empreiteiro para empreiteiro, com medidas, espessuras e passos que pode aplicar já no próximo orçamento.
Índice
Pontos-Chave
- Humidade relativa acima de 60% na cave sanitária favorece bolor; madeira com 16–20% de humidade já preocupa. Medir primeiro evita remendos caros.
- Tratar água é prioridade: pendentes exteriores de 1–2% e recolha de águas limpam grande parte dos problemas antes de qualquer máquina.
- Barreira de vapor de 200 micras no solo, com sobreposição de 150–200 mm e vedação perimetral, é a intervenção com melhor custo/benefício.
- Em geral, caves seladas com RH controlada (50–55%) dão menos dores de cabeça do que caves ventiladas em climas húmidos.
- Plano completo = drenagem + barreira de vapor + selagem bem executada + desumidificador certo. Fica estável, sem regressos à obra.
Diagnóstico Rápido Que Evita Tratamentos Errados
Problema
Muitos empreiteiros começam por comprar um desumidificador. Depois percebem que a água entra por fora. Sem diagnóstico, gasta-se duas vezes.
Solução
- Medir o ambiente: usar higrómetro na cave e no exterior no mesmo dia. Se a cave está acima de 60% RH e o exterior está mais seco, há vapor interno ou entrada de água.
- Medir madeira: humidade em vigas/solipas; acima de 16% preocupa, acima de 20% pede ação imediata.
- Procurar sinais: marcas de água nas paredes de fundação, manchas no solo, eflorescências, condensação em tubagens frias.
- Ver a envolvente: pendentes negativas, caleiras entupidas, tubos de queda a despejar junto à fundação.
Exemplo em Obra
Numa moradia térrea na costa, a cave tinha 72% RH e a madeira 18–19% MC. O exterior mostrava pendentes para a casa. Só com correção de pendentes (1,5%) e extensão dos tubos de queda a 2 m do plinto, a cave desceu para 60–62% antes de qualquer máquina.
Drenagem Exterior: Onde A Água Entra, O Bolor Segue
Problema
É comum a principal fonte de humidade ser a água da chuva a encostar-se à fundação. Sem drenagem, qualquer solução interior fica a remar contra a maré.
Solução
- Pendente do terreno: garantir 1–2% a afastar a água da casa nos primeiros 2–3 metros.
- Caleiras e tubos de queda: dimensionar e limpar; descarregar pelo menos a 2 m da fundação ou para linha drenante.
- Dreno perimetral (quando possível): tubo perfurado com geotêxtil, cama de brita e saída para ponto baixo; cuidado com ligações a redes públicas (ver regulamentos locais).
- Impermeabilização exterior: reparar fissuras visíveis no betão/bloco e aplicar revestimento betuminoso onde for acessível.
Exemplo em Obra
Moradia com solo argiloso. Após instalar dreno perimetral e corrigir pendentes, a cave saiu de 68% para 58–60% RH em cerca de duas semanas secas. Só depois avançámos para o interior.
Barreira De Vapor No Solo: O Ganho Mais Barato
Problema
Mesmo sem água líquida, o solo “respira” vapor. A cave sanitária absorve e a madeira sofre. Sem barreira, o desumidificador trabalha o dobro.
Solução
- Material: polietileno de 200 micras (0,2 mm) resistente.
- Aplicação: sobrepor 150–200 mm nas emendas, fita butílica ou de vapor nas juntas, e selar a 100–150 mm das paredes/apoios com mástique compatível.
- Proteção: onde houver tráfego de manutenção, adicionar camada leve de areia 10–20 mm ou placas finas para evitar rasgos.
- Subir ligeiramente 50–100 mm nas sapatas internas para continuidade, sem tapar zonas de inspeção a pragas onde exigido.
Dados & Efeito
Em geral, muitos empreiteiros observam reduções de 10–20 pontos percentuais de RH após a instalação correta da barreira de vapor no solo. Menos condensação, menos fungos, menos odores.
Exemplo em Obra
Cave com 61–63% RH após drenagem. Com barreira de 200 micras, passou a estabilizar nos 50–54% em dias secos, sem máquinas. Resultado: cliente notou desaparecimento do odor em uma semana.
Selar Ou Ventilar? A Escolha Certa Para O Clima
Problema
Ventilar pode trazer ar mais húmido do que o que existe na cave, sobretudo em zonas costeiras. Já em zonas secas e frias, a ventilação sazonal pode resultar.
Solução
- Clima húmido (litoral, vales com nevoeiro): optar por cave selada, barreira de vapor contínua, vedações a passagens e controlo ativo de RH (50–55%).
- Clima seco/continental: ventilação controlada pode funcionar. Dimensionamento típico referido por orientações de mercado: área de ventilação total de 1/150 a 1/300 da área do piso, distribuída e protegida por rede anti-pragas.
- Pontos críticos: todos os atravessamentos (tubos, cabos) devem ser selados com mastiques ou mangas específicas para evitar infiltração de ar húmido.
Tabela de Comparação
| Solução | Estado Atual | Melhoria |
|---|
| Ventilada | RH varia com exterior; risco em verões húmidos | Manter grelhas limpas, adicionar grelhas opostas, considerar fechos sazonais |
| Selada | RH estável com barreira + vedações | Desumidificador a 50–55% RH e monitor permanente |
Exemplo em Obra
Moradia perto do mar. Ventilação aumentava RH para 70% nas tardes de verão. Selámos a cave, aplicámos barreira e instalámos desumidificador com dreno contínuo. RH ficou a 52–55% estável, sem condensação em tubagens frias.
Isolamento E Pontos Críticos Que Mais Falham
Problema
O erro clássico é encher a face inferior do piso com lã mineral sem controlar vapor e ar. Resultado: lã húmida, fungos e madeira pior do que antes.
Solução
- Prioridade ao controlo de ar e vapor. Só depois isolar.
- Vigas perimetrais (rim joists): espuma de célula fechada ou painéis XPS/PIR vedados a 100% ao redor. Evita condensação.
- Piso superior da cave: em caves seladas, muitas equipas preferem isolar as paredes de fundação (XPS/PIR colado) e manter o piso “dentro” da envolvente térmica. Em obra leve, quando só se isola o piso, garantir barreira de vapor contínua no solo e vedações.
- Espessuras de referência: em geral, 60–100 mm de XPS/PIR em paredes ou 40–60 mm em vigas perimetrais dão bom compromisso sem roubar muito espaço.
- Pragas: manter uma faixa de inspeção visível de 75–100 mm no topo da parede de fundação, conforme práticas locais de controlo de térmitas.
Exemplo em Obra
Cave selada com barreira de vapor. Aplicámos 80 mm de XPS nas paredes, selado. Rim joists com espuma de célula fechada. O piso de madeira desceu de 17% para 12–13% MC ao fim de um mês de operação contínua.
Desumidificação E Controlo Contínuo
Problema
Mesmo com tudo bem feito, oscilações sazonais pedem controlo ativo. Sem setpoint, a cave volta a “respirar” húmido em ondas de calor húmido.
Solução
- Setpoint: muitos técnicos regulam desumidificadores entre 50–55% RH para caves seladas.
- Capacidade: em geral, unidades de 20–30 L/d cobrem caves pequenas; 30–50 L/d para volumes maiores ou climas mais húmidos.
- Dreno contínuo: ligar a gravidade ou bomba de condensados. Evitar depósitos que transbordam.
- Monitorização: colocar um higrómetro com registo mínimo/máximo ou sensor remoto. Inspeção trimestral é prática comum.
Exemplo em Obra
Cave de 70 m², altura útil 0,8 m. Desumidificador de 30 L/d, dreno para bomba de condensados, setpoint 52% RH. Ao fim de 48 horas, RH estabilizou, e a madeira manteve-se abaixo de 14% MC nas semanas seguintes.
Perguntas Frequentes
Em zonas húmidas, é frequente o ar noturno continuar com ponto de orvalho alto. Entrará vapor que condensa na cave. Se ao abrir grelhas o RH sobe, mude para selagem + controlo a 50–55%.
A barreira de vapor precisa de geotêxtil por cima?
Não é obrigatório. Em zonas de passagem para manutenção, uma camada de 10–20 mm de areia ou placas finas protege a película de 200 micras contra rasgos. O essencial é vedar as emendas (150–200 mm de sobreposição) e o perímetro.
Lã mineral no teto da cave ajuda?
Sem barreira de vapor no solo e sem selar o ar, costuma piorar. Em caves seladas, prefira isolar paredes de fundação com XPS/PIR vedado e tratar rim joists com espuma ou painéis selados.
E quanto a pragas e inspeções?
Deixe uma faixa de inspeção visível de 75–100 mm no topo das paredes de fundação e respeite as práticas locais de controlo de térmitas. Selagens devem ser compatíveis com tratamentos químicos, quando existirem.
Há exigências sobre radão?
Em algumas regiões, existem mapas de risco e requisitos para membranas específicas e/ou tubos de depressurização passivos. Verifique regulamentação local antes de fechar a cave.
Conclusão
Cave sanitária estável pede sequência: água para fora (1–2% de pendentes), solo a não “respirar” (barreira de 200 micras bem selada), ar controlado (selagem + 50–55% RH), e pontos críticos isolados sem criar armadilhas de vapor. Resultado? Madeira seca, odores a desaparecer e menos regressos à obra.
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